II- Dos términos

Eu nunca acho que vou terminar as coisas, mas às vezes acontece.

Eu não sei como dizer adeus. Acho que nunca aprendi direito a desapegar. A deixar ir quando é hora de dizer tchau. 

Sou uma pessoa apegada. Gosto de pensar que as coisas e as pessoas da minha vida podem ficar aqui para sempre, me fazendo companhia faça chuva ou faça sol. Ah, e eu morro de medo de perder, também. 

Sabe como?

Um medo de ser insuficiente. De dar tudo de mim e, ainda assim, não ser o bastante. De perder as coisas e as pessoas que são importantes pra mim porque, olha só? Não tem nada de especial aqui. 

Enfim, tô tratando isso na terapia, eu juro. 

Mas a questão aqui é: se juntar essa minha dita dificuldade de desapego e a síndrome do impostor (outra das coisas com as quais tenho que lidar diariamente), terminar de escrever livros pode ser bem… complicado. 

Não me entenda mal, eu amo criar histórias. Acho que não tem nada no mundo que eu ame mais do que escrever. 

Mas existe um abismo entre amar a escrita e sentir que também é amada por ela. Um caminho longo entre gostar muito de escrever e sentir que aquilo que escrevemos está bom o bastante para permitir que outras pessoas leiam. 

E às vezes o abismo é quase intransponível. 

Às vezes a gente sente que não vai conseguir. Que simplesmente não vai dar pra terminar mais esse projeto, porque tá muito ruim e a nossa cabeça não faz ideia de como começar a arrumar. 

E é aí que você desiste. É aí que a sua cabeça te convence de que é melhor pular para o próximo projeto, um que parece melhor e mais estruturado e que você tem certeza de que vai conseguir terminar. 

Spoiler: raramente isso é verdade. 

Não posso falar pelos outros, é claro. Dou conta apenas do meu já bastante caótico processo criativo, mas abandonar projetos em geral só significa ficar com um monte de arquivos de word guardados no computador. 

Então, estou aprendendo a insistir. A tentar de novo no dia seguinte, mesmo que em alguns dias sinta que tudo que eu escrevi está horroroso ou, pior ainda, que eu não tenha escrito absolutamente nada. 

Nem sempre é fácil, admito. Durante os quatro meses nos quais estou trabalhando no meu projeto atual, pensei muitas vezes em desistir. Muitas, muitas vezes mesmo. 

Curiosamente, houve mais dias em que eu pensei em continuar. Em tentar mais um pouco porque, olha só! Eu gosto mesmo desses personagens. Gosto mesmo da história que eles têm pra contar. Quero que o mundo os conheça. 

Lírio e Narin me devolveram uma coisa que, para ser sincera, eu já estava começando a dar como perdida: o prazer de escrever por escrever. 

É claro que eu quero ver essa história publicada (tenho muitos planos pra ela!), mas antes disso, eu queria saber como ela terminava. E acho que foi isso que fez a diferença. 

Eu escrevi tudo, até o final, porque queria saber como eles iam terminar. Queria descobrir qual seria o final para esse amor, que é tão singelo e bonito. 

E aí, quando batia a vontade de desistir, essa vontade, a da descoberta, era mais forte. Ela me segurou no lugar. Me manteve aqui, ouvindo tudo o que eles queriam me contar, até chegar a hoje. 

Até o ponto final. 

Esse é um livro que ainda vai passar por muitas etapas e, se os deuses quiserem, uma boa dose de mudanças. Mas ele existe. 

Está terminado e, pelo menos por hoje, isso é tudo o que importa.