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I- Das voltas que o mundo dá
Às vezes, tudo o que a gente precisa é passar um tempo longe pra voltar a se encontrar.
Há tempos que ensaio voltar aqui. Voltar a escrever sobre como me sinto, contar como anda o meu processo criativo (que mudou muito!) e compartilhar as boas leituras que me acompanharam nessas minhas últimas andanças.
Acontece que me faltava tempo, e não por estar atribulada de tarefas para realizar ou coisas para fazer, embora isso de fato tenha acontecido. Me faltava, em verdade, o tempo de disposição. O tempo da vontade.
Me faltava encontrar as palavras certas, até eu perceber que não existe isso de palavras certas. Todas as palavras são, em alguma medida, certas. O que muda é a ocasião. O humor. O tom. E a disposição.
A minha andava em falta, e não só para os textos da newsletter, mas para todos os meus textos. Para as minhas histórias, que são uma parte tão importante de mim.
Eu percebi, não sem uma boa dose de brigas comigo mesma, que em algum ponto passei a tratar a escrita como uma obrigação quando, na verdade, ela sempre foi o meu maior amor. Percebi que, na ânsia de terminar alguma coisa para publicar (o velho “quem é visto não é lembrado”) perdia o prazer simples de me envolver na criação de uma história.
Eu percebi que tinha me perdido no meio do caminho, e agora já não sabia mais como fazer para voltar. Depois de tanta coisa, uma parte de mim nem achava que “voltar” fosse uma possibilidade.
Eu precisei me afastar. Tirar um tempo longe da escrita, e da minha casa. Ir pra longe, e ver se me encontrava no caminho. É engraçado como, às vezes, tudo o que a gente precisa é passar um tempo longe pra voltar a se encontrar.
Foi bom. E um pouco assustador, também.
Sabe aquela coisa de se acostumar com o ruim porque é conhecido, e depois ter medo de mudar? Pois é. Eu tava morrendo de medo. Sentia medo de muitas coisas, mas especialmente de já não ser mais a “pessoa que escreve”. De ter me perdido de mim, e perdido meu ofício no processo.
Aos poucos, no entanto, fui percebendo que não era bem assim. Encontrei, acesa em mim, a chama da escrita. Descobri que, no fim das contas, ela nunca havia se apagado. Só mudou, como tudo muda.
Como eu mudei, sem nem ter me dado conta de boa parte desse processo que, agora olhando para trás, percebo que foi lento, gradual. Um grãozinho de areia por vez até eu estar enterrada até o pescoço.
Saí de toda essa areia com uma nova roupagem. Uma versão atualizada de mim, mas certamente não a última. E reencontrei a escrita, a me esperar com um buquê de flores de cerejeira.
No fim, e depois de tudo, descobri que, às vezes, é preciso ir para se encontrar.