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III - Dos livros estranhos
Bons livros são como casas, e algumas casas podem ser bem estranhas. Essa é a melhor parte.
“Um bom livro vai te fazer sentir”.
Eu não lembro quem foi que me disse isso. Pode ter sido uma das minhas professoras da escola. Ou a bibliotecária, que sempre indicava um livro diferente pra menina solitária que, dia sim dia não ia passar o intervalo da aula no silêncio daquelas paredes.
Não lembro, mesmo. Mas nunca fui capaz de esquecer essa frase.
Um bom livro vai te fazer sentir.
É, vai mesmo.
Pode acontecer de você rir até a barriga doer. Ou chorar até seus olhos incharem e o ar faltar.
Você pode sentir raiva, felicidade, medo ou acalento.
Bons livros vão te despertar. Te tirar do mundo por alguns minutos, e quando você se der conta, vai estar tão longe que, por maiores ou mais complicados que sejam os seus problemas cotidianos, vai conseguir escapar deles por alguns minutos. Vai poder respirar.
Dia desses, eu terminei de ler um bom livro.
Eu sabia que seria bom, já que foi escrito por um dos meus autores favoritos da vida toda. Mas eu não esperava que a história de uma garotinha alienígena e das duas pessoas que tentam protegê-la fosse mexer tanto comigo, apesar das palavras do próprio autor de que aquele era “um livro estranho”.
Como outros livros do TJ Klune, essa é uma história sobre encontrarmos o nosso lugar no mundo. Sobre encontrar um lar nos lugares mais improváveis, achar a felicidade nas pequenas e cotidianas coisas da vida.
Os Ossos sob a minha pele é também a história de como o preconceito pode ser destrutivo. Sobre como é humano temer aquilo que não se conhece e como esse medo pode nos levar a fazer coisas inacreditáveis e, por vezes, pra lá de questionáveis. É uma história sobre não ser o bastante e nem tentar ser. E sobre, no fim das contas, não precisarmos ser nada daquilo que os outros esperam de nós.
Uma história sobre entender os nossos limites e respeitá-los, mas também saber quando é a hora de esticá-los um pouco mesmo que venham a quebrar.
Esse é um livro que cutuca feridas e, mesmo assim, te deixa de coração quentinho. Uma história que, definitivamente, vai te fazer sentir.