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Não é que eu esteja triste
Não é que eu esteja triste. Ou, melhor dizendo, não é só a tristeza que fez morada, aqui.
A solidão apareceu pra fazer companhia, também.
É uma daquelas visitas indesejadas. Do tipo que aparece sem ter sido convidada e toma o espaço como se fosse seu. Como se tivesse todo o direito de estar aqui.
Não é que eu esteja triste. É que eu me sinto morando numa casa vazia.
Como se estivesse em um daqueles sonhos onde a gente fala e ninguém escuta. Onde a gente chora, mas não tem ninguém pra ver.
Entenda, não é que eu esteja triste.
O que acontece é que tem momentos em que eu sinto que poderia desaparecer. Sumir assim, feito ar.
Às vezes tenho a impressão de ser como uma página em branco. Sinto como se todas as minhas cores se apagassem, e o que sobra não dá lá pra muita coisa. Um amontoado de borrões desencontrados.
Sei lá, pode ser só melancolia.
Outro dia, ouvi de um personagem em uma série que a tristeza e a solidão o faziam sentir como se fosse a única pessoa do mundo. O único que sobrou.
Ouvir algo assim ressoou em mim. Percebi, não sem uma pontada de alarme, que me identifiquei com esse sentimento. Que eu também, mais vezes do que gostaria, tenho momentos de me sentir como a única pessoa do mundo. Aquela que ficou para trás.
É claro, uma parte de mim sabe que nada disso é verdade. Que tem pessoas que me amam e estão comigo não importa o que aconteça. E, na maior parte do tempo, as vozes dessas pessoas fala mais alto que o meu silêncio interno. E aí eu consigo rir e sorrir e tudo fica bem por um tempo, porque a voz da solidão fica mais baixa.
Mas tem dias como hoje.
Dias em que as palavras ficam travadas na garganta. Dias nos quais não é que eu esteja triste, não exatamente. Só estou me sentindo sozinha.