- Um conto, um ponto
- Posts
- Sem tempo, arte
Sem tempo, arte
Não dá tempo para ser artista.
Fiquei com esse pensamento girando na minha cabeça depois de assistir um vídeo de um dos meus canais literários favoritos (pra quem ficar curioso, é o Resenhando Sonhos!) sobre a biografia do Leonardo da Vinci e como, durante a sua vida, ele foi alguém que teve tempo para experimentar. Tempo para respeitar o próprio processo e, porque não, procrastinar bastante.
Pensei muito, em especial por conta do projeto no qual estou trabalhando no momento. Uma história que é em si um desafio em muitos sentidos. Que está na sua segunda versão e, mesmo assim, ainda tem muito o que ser trabalhada.
Para resumir: uma história que demanda tempo.
Leo tinha tempo. No mundo de hoje, essa parece ser uma iguaria cada vez mais rara. Rara e muito cara.
Confesso: ouvir sobre isso me fez pensar na minha própria vida como artista. No meu próprio processo que, ao longo deste ano que está terminando, sofreu tantas transformações.
Lembrei de todas as vezes em que me cobrei para produzir mais. Das ocasiões em que chorei de frustração porque as coisas no campo das histórias não estavam saindo como eu gostaria. Em como vem sendo um caminho árduo entender que a minha produtividade mudou mesmo que o meu amor por contar histórias continue o mesmo.
Lembrei, também, daquela frase que todo mundo que vive nesse mundo tão conectado conhece: “Quem não é visto, não é lembrado”.
Para escritores, em especial para a escritora que está com as mãos nesse teclado bem agora, essa sempre foi uma verdade desconcertante. No meu caso, sempre foi mais fácil e confortável a expressão pelas palavras, mas isso não basta se eu quiser que as minhas histórias sejam lidas.
Se eu quiser isso, preciso aparecer. Preciso que vejam a mim e as minhas palavras tanto quanto for possível, e assim correrei menos riscos de ser esquecida.
É essa irritante máxima que, por vezes, pode induzir um autor a mostrar um trabalho que ainda não está pronto só porque já faz um número X de meses/anos desde que publicou alguma coisa. É esse pensamento que às vezes assalta a minha cabeça e me faz achar que não sou uma autora de verdade. Afinal, tem tempos desde que o meu último conto saiu, e a minha conta no Instagram não é lá muito ativa (tenho uma promessa de tentar melhorar essa última parte, vamos ver).
Dá pra perceber a crueldade?
Não dá tempo de ser artista. De ser escritor e testar histórias e ideias até encontrar aquela que mais brilha aos seus olhos. Ah, e mesmo que você consiga fazer isso, trate de andar logo e escrevê-la, hein? Não pare. Não hesite. Não procrastine.
O mundo não vai esperar por você. Ele não espera por ninguém.
Nadar contra essa corrente é um esforço diário. É uma sucessão de frustrações e questionamentos mas, em contrapartida, é também um exercício importante de autodescoberta. De entender quem sou enquanto escritora e qual é o meu processo criativo.
Tem dias que são melhores. Outros que são péssimos. Mas ainda estou tentando e, quer saber? Pouco a pouco estou me convencendo de que tentar já é um grande passo.